O dólar comercial encerrou o dia cotado a R$ 1,6630, em alta de 0,79% em relação ao fechamento de ontem. Com a alta dessa terça-feira, a moeda norte-americana reverte a tendência de queda no ano e
zera quase toda a perda de
2011, já que em 31 de dezembro de 2010 fechou em R$ 1,6640.
A surpreendente queda de juros promovida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) e os sinais de deterioração da economia mundial provocaram uma mudança brusca na trajetória da moeda brasileira.
Depois da decisão do Copom, divulgada em 31 de agosto após o fechamento do mercado, a moeda americana subiu 4,33%. É uma trajetória completamente diferente do início do ano até o fim de agosto, quando acumulava
queda de 3,51%.
'Estamos assistindo a uma fuga para ativos mais líquidos à medida que se avolumam as indicações do fraco desempenho dos Estados Unidos e da Europa', diz André Perfeito, economista da Gradual Investimentos.
Pode parecer irônico, mas em momentos de tensão com a economia americana os investidores fogem para ativos de maior liquidez, como o dólar. Daí a valorização da moeda americana em relação a diversas divisas no mundo, incluindo o real.
Também colabora para a queda do real as medidas adotadas pelo governo para elevar o IOF sobre o capital especulativo e a polêmica decisão do BC de cortar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 ponto porcentual para 12%, quando a maior parte do mercado esperava manutenção.
O corte brusco da Selic diminuiu a diferença entre os juros praticados no Brasil e no exterior, reduzindo a lucratividade das operações de arbitragem conhecidas como 'cupom cambial'. Como a diferença ainda é muito grande - os juros estão zerados no exterior -, o efeito não é tão imediato e a operação ainda é bastante lucrativa.
Mas, de acordo com operadores de câmbio que preferiram não se identificar, o movimento abrupto do BC indica a disposição do governo Dilma de reduzir os juros e os investidores já podem estar apostando nisso. Para consolidar essa posição, o mercado aguarda a divulgação da ata da reunião do Copom, que ocorre esta semana.
Outro fator relevante, na visão do mercado, é a perda de credibilidade do BC. Os investidores começam a acreditar que o banco não está mais comprometido com o combate da inflação. 'O mercado perde a confiança no BC e na política do Brasil, o que se reflete no valor da moeda', disse um operador.
Nos bastidores, o governo federal está comemorando o efeito do corte de juros sobre a taxa de câmbio, porque a desvalorização do real ameniza os danos sofridos pela indústria nacional com a entrada de importados.
(Raquel Landim, de O Estado de S. Paulo)