terça-feira, 25 de outubro de 2011

Maracanã, palco da final de 2014 para afastar fantasmas de 1950
RIO DE JANEIRO — O Maracanã, confirmado nesta quinta-feira como palco da decisão da Copa do Mundo de 2014, ainda está marcado pelas lembranças do trauma de 1950, quando a seleção brasileira foi derrotada por 2 a 1 pelo Uruguai enquanto todos esperavam uma vitória verde-amarela.
Entre os cerca de 200.000 torcedores que assistiram ao famoso 'Maracanazo', Francisco Camões de Menezes, de 77 anos, se lembra de cada detalhe.
"Assisti a todas as partidas disputadas no Maracanã durante a Copa de 50. Na época, tinha 16 anos e consegui um talão com as entradas por um preço módico no meu colégio. No dia da final, cheguei duas horas antes porque queria ter certeza de conseguir um bom lugar. Depois, soube que fiz a coisa certa, já que muita gente ficou do lado de fora, inclusive algumas pessoas com ingresso", lembra Francisco, que confessa não ter chorado quando o estádio todo se calou, em clima de velório.
"Fiquei triste porque esperava que o Brasil fosse ganhar, mas no fundo só torço mesmo pelo Botafogo e entre os titulares não tinha nenhum jogador do meu time de coração. Tenho certeza que foi por causa disso que acabamos perdendo", ironiza este fanático torcedor alvinegro.
"Quando Ghiggia fez o segundo gol uruguaio, estava do outro lado, mas lembro até agora de cada detalhe da jogada. Quando o árbitro apitou o final da partida, parecia que estas 200.000 pessoas estavam reunidas para assistir a um velório", lembra.
Francisco não guarda mágoas em relação à vitória uruguaia, até porque, alguns meses depois da Copa, fez amizade com o capitão da seleção 'celeste' Obdulio Varela.
"Eu conheci ele por meio de um amigo meu quando foi disputar uma partida no Rio com o Peñarol. Mantivemos o contato e ele me ligava sempre que vinha à cidade. Apesar de o Uruguai ser muito famoso pelo churrasco, ele adorava a carne brasileira", comenta.
Além desta final de 1950, o torcedor que os sócios do Botafogo costumam chamar de 'Professor Menezes' guarda inúmeras lembranças das partidas que assistiu no estádio, quando viu seus ídolos Heleno de Freitas e Garrincha brilharem pela Estrela Solitária.
No dia 19 de novembro de 1969, ele também estava no Maracanã quando Pelé fez o milésimo gol da sua carreira.
A bola que foi parar no fundo das redes do gol do Vasco nessa partida pode ser vista no museu do Maracanã, única parte ainda aberta ao público durante as obras de renovação para a Copa do Mundo de 2014.
"Este estádio pode ser considerado um monumento histórico. Na época, foi revolucionário pela sua grandiosidade e pelas técnicas utilizadas para sua construção. Apesar de não ser mais o maior do mundo em termos de capacidade (que será reduzida para 83.000 para a Copa de 2014), ele continua único por ter um enorme valor emocional. Jogar no Maracanã é o sonho de qualquer jogador", explica a museóloga Carmen Dittz Chaves.
Apesar da importância histórica, sua reforma, cujo custo foi avaliado em mais de um bilhão de reais, gerou inúmeras polêmicas.
"Seria melhor gastar este dinheiro todo investindo em saúde e educação", critica Walter Magalhães, aposentado de 60 anos.
Outros torcedores mais supersticiosos consideram que o palco da final deveria ser outro para não repetir a sina de 1950.
Apesar da sua estrutura ser tombada, outros críticos alegam que seria mais barato optar por uma demolição completa para construir uma arena nova, como aconteceu com o estádio de Wembley, na Inglaterra.
A reforma do Maracanã, que sofreu atrasos por causa de repetidas greves nos últimos meses, vem sendo alvo de críticas pela Federação Internacional de Futebol (Fifa), que acompanha de perto o avanço das obras.
O estádio precisa estar pronto em dezembro de 2012 para poder sediar a Copa das Confederações em junho de 2013.
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